quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Reborn

Como o bom filho à casa torna, aqui estou eu novamente tentando, por algum motivo inexplicável, tirar esse blog das cinzas, acrescentando algo de útil (ou não) nesse imenso mundo que é a interwebs.
Recentemente eu tenho me engajado em algumas pesquisas, a maioria delas por obrigação, já  que parece que eu tenho que pesquisar pra todas as matérias, todos os semestres, toda a minha vida, na faculdade.
Um em especial me chamou a atenção.
Não é exatamente uma pesquisa, mas eu posso garantir que para o resultado final houve uma extensa pesquisa bibliográfica e inúmeras horas de aulas massantes de psicologia social II (mentira). Não que eu não gostasse das aulas, até porque elas realmente me fazem refletir, mas, no fundo no fundo, parece que tudo aquilo já estava dentro de mim. Sem contar as inúmeras vezes que eu tive que ouvir umas opiniões absurdamente conservadores ou sem nexo nenhum. (E por mais que você pense que a faculdade de psicologia é um bando de pós adolescentes liberais, hippies, fumadores de maconha - o que certamente alguns são - isso não é verdade. Tão longe de ser verdade...)
Isso me faz pensar como eu devo ser uma pessoa abençoada pela cabeça que eu tenho, no melhor dos sentidos. O que me fez pensar também o quanto a vida acadêmica pode ser uma grande mentira, mais um meio de produção de pessoas.
Talvez por isso eu gostasse mais dos velhos tempos, acho que as pessoas eram mais instintivas ou inocentes, sei lá.
MAS, voltando ao assunto, esse trabalho eu fiz com uma grande parceira minha desde o primeiro período da faculdade (Sei que no início só andamos juntas por interesse, mas acho que acabamos nos tornando um bela dupla ahsuasuha).
E sobre o que é esse trabalho? Isso mesmo: papéis de gênero.
Eu nunca vi um assunto ter sido tão largamente discutido durante, pelo menos, uns dois anos? É possível ver esse tipo de transição, principalmente se você é um usuário avido das redes sociais (a.k.a Facebook), quando toneladas de post relacionados ao feminismo ou "anarcomiguxos", "feminazis" e suas variações, tomam conta do seu feed de notícias.
Não que eu ache isso ruim, mas como qualquer coisa, as vezes as pessoas levam a ideia longe demais.
Enfim, no trabalho era pedido para fazer um paralelo entre um filme infantil de nossa escolha e os textos e aulas referentes a gênero pautados.
Escolhemos o filme "A Ratinha Valente", um filme que provavelmente você não se lembra, ou se lembra, você realmente é uma pessoa de boa memória, porque a única coisa que eu lembrava do filme era da ilustração do poster.
Depois de de dois dias de leitura avida, analise de cenas e palavras escolhidas a dedo por nós, eis o resultado final:

" Questão de Gênero tratado em base do filme “A Ratinha Valente”

Nas últimas décadas, é possível observar um crescente interesse nos estudos de identidade e gênero, tendo em vista que diversos estudiosos/as, principalmente feministas, tem buscado analisar e problematizar questões de sexismo que permeiam na sociedade.
Desde antigos movimentos como a luta para o fim de casamentos arranjados e a conquista de igualdade contratual entre homens e mulheres no fim do século XIX até os mais recentes como a “Marcha das Vadias” e a busca da maior representatividade das mulheres na política, o feminismo tem mostrado sua influência para alterar o modo as pessoas percebem e veem questões de gênero na atualidade.
Se pararmos para analisar, é quase impossível não se deparar com o impacto do sexismo e dos chamados papéis de gênero em nosso modo de vida. Em pequenos detalhes, que muitas vezes não percebemos a primeira vista, há o enraizamento do pensamento de que o ser humano hétero, branco e masculino é o padrão de normalidade humana, e qualquer variação disso é considerada desviante.
Como é explanado no texto de Guacira Lopes Louro (Gênero, sexualidade e educação – uma perspectiva pós-estruturalista; Vozes, 2003), essa padronização já é evidente desde os primeiros anos de vida, quando é posto que há “brinquedos de menina” e “brinquedos de menino”,ou que azul é “para meninos” e rosa “para meninas”, e essa diferenciação é institucionalizada dentro das escolas, onde meninos e meninas são separados nas filas, os esportes na aula de educação são diferentes pois há uma crença na “debilidade física” das meninas em relação aos meninos, e até mesmo como os/as professores/as tratam esses/as alunos/as, pondo que meninas que tem um bom rendimento escolar são consideradas esforçadas e não inteligentes, já os meninos com baixo rendimento são considerados desatentos ou agitados, porém sua inteligência nunca é questionada, de tal forma que passamos a crer que essa diferenciação é um fato natural e não cultural.
O sexismo e os papéis de gênero são largamente notórios na mídia, como filmes, quadrinhos, músicas, programas de TV, etc. Tendo isso em vista, procuramos analisar de forma crítica e minuciosa a presença desses fenômenos no filme “A Ratinha
Valente”(1982).
O filme conta a história de Sra. Brisby, uma ratinha viúva em sua luta para mover sua residência para um local seguro do arado, já que seu filho está com pneumonia.
Com o tema de nosso estudo em mente, a primeira coisa que podemos notar é que sra.
Brisby não é o típico herói: masculino e viril; ela transparece uma imagem de fragilidade e delicadeza, ela é uma mãe, dona de casa, cujo o único desejo é o bem-estar de sua família. A imagem do herói é antiga, e está enraizada em nosso imaginário como
um homem superior (branco e hétero),admirado por todos. Outro ponto muito marcante é o fato de não sabemos o nome de nossa protagonista, que sempre é referida como sra. Brisby ou sra. Johnantan Brisby, seu falecido marido. A ratinha só obtêm respeito e reconhecimento dos outros ratos pelo legado de seu cônjuge. Antes de
saberem que ela tinha uma relação com um antigo e respeitado conhecido, sra. Brisby era tratada com desdém pelos outros ratos. Seu valor só lhe é conferido a partir da ligação com essa figura masculina, e não por seu próprio mérito. Isso contempla o mito de que a mulher seria uma continuação do homem, ou um homem incompleto. Apesar de estar clara o valor de sra. Brisby para o espectador, ao final da história é inegável que sua odisseia é guiada pelos homens de sua vida: o filho que está doente, os ratos que conhece e o legado de seu marido, e não por seus próprios desejos e ambições. Jamais
sabemos algo sobre a vida de sra. Brisby senão como mãe e esposa.
No filme nos é apresentada uma sociedade de ratos com uma inteligência superior ao de outros animais, no entanto, tal sociedade é exclusivamente composta por homens, reforçando a ideia de que homens tem uma maior capacidade intelectual do que as mulheres. É importante ressaltar que os principais líderes da história são homens
(Nicodemus e a Grande Coruja), colocando-os mais uma vez em uma relação de superioridade com as mulheres.
A partir de nossa análise crítica, também podemos observar que todas as personagens femininas são representadas dentro de um ambiente doméstico, com tia Megera, a sra. Brisby e suas filhas, o que remete que o gênero feminino apenas se coloca nesse ambiente doméstico. Os homens são apresentados como os “resolvedores de problemas” enquanto as mulheres se limitam a cuidar do lar.
Ainda dentro desse ambiente doméstico é possível perceber uma gritante diferenciação entre o filho mais velho de Sra. Brisby e suas irmãs. Ele se mostra um menino muito agitado, por vezes rebelde, ressaltando que é corajoso e valente, muito diferente de suas irmãs, que são vistas como mais “recatadas”, comportadas. Isso é um claro esteriótipo criado pela mídia, onde meninas devem ser educadas e quietas e meninos devem exibir desde muito cedo que tem virilidade, onde eles não podem ter medo, ou chorar, “como uma garotinha”,mostrando fragilidade.
Isso são algumas coisas que pudemos observar em uma visão geral do filme.

Pensando em nossa própria vivência, as questões de gênero foram mostradas desde nossa entrada nas instituições de ensino, como já foi citado, na separação em filas, da separação também na educação física, em alguns casos também onde o uniforme era diferenciado: meninos de short e meninas de saia; professores/as que julgavam inadequados os brinquedos levados por meninas como bolinhas de gude, onde era dito que isso era “coisa de menino”; quando meninas eram mais agitadas muitas das vezes eram comparadas com meninos.
Dentro de casa, o sexismo também é evidente. Os filhos normalmente tem mais liberdade sexual do que as meninas. Quando o filho perde a virgindade por exemplo, é motivo de orgulho, e em contrapartida quando a menina faz o mesmo, é duramente julgada pelos pais. Acreditamos que isso gera uma grande frustração por parte das mulheres, e é possível notar isso em vários fatos cotidianos de nossa vida.
Tanto mulheres quanto homens são constantemente analisados pelo que vestem: quando a mulher usam roupas mais masculinas é tachada de “sapatão”, ou quando usam roupas mais justas ou apertadas, são “vadias”. Isso também é observável nos homens, que usarem roupas mais justas, são chamados de “viados”.
Este é só um dos exemplos que estão presentes de forma marcante em nosso dia a dia, sem contar com a diferenciação de salários e cargos; representação política; os altos níveis de violência baseados em gênero; a constante cobrança para que a mulher tenha um “corpo perfeito”; piadas sobre como mulheres dirigem mal e de cunho semelhante; a associação que elas tem ao seu sucesso com um homem (ela deve namorar um homem para obter sucesso); a ideia de que “o homem deve pagar a conta”; a expectativa posta em cima das mulheres que elas devem ser uma boa esposa e mãe no futuro, independente de seus desejos, entre outros incontáveis exemplos.

A psicologia social tem o papel de identificar esses papéis de gênero, analisá-los criticamente, buscar sua origem, compreendê-los e desconstruí-los, questioná-los, para que haja uma reflexão constante de nossas atitudes e de outrem, para promover uma sociedade cada dia mais consciente e igualitária. A realização de estudos sobre o tema é apenas um dos meios que podemos utilizar como psicólogos para o aprimoramento e divulgação dessa questão.

Tendo em vista a nossa formação, acreditamos que podemos construir, mesmo que a curtos passos, uma sociedade menos baseado no sexismo, fazendo com que as pessoas reflitam sobre o papel delas dentro desse contexto. Fazendo com que as pessoas aceitem suas diferenças, não como um desvio, mas como uma pluralidade, que faz parte da diversidade natural do ser humano. O constante debate e reflexão sobre o assunto é de extrema importante, pois, como bem enfatizamos em nosso texto, o sexismo ainda é um aspecto de muito peso dentro da comunidade."

Pois bem. Aqui me despeço de vocês, espero que tenham apreciado o post e o trabalho.
Auf Wiedersehen!

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